Diferente das ciências exatas, a lógica das ciências comportamentais dirige sua orientação ao desencadear raciocínios, alinhando-se por fatos pertencentes à história de vida de cada um. É dessa forma que, a não ser rarissimamente, essa ciência fornecerá postulados universais e leis rígidas. O ser humano vai passando por experiências pessoais que vão marcando indelevelmente sua história de vida, quer na infância, quer na adolescência, e mesmo na fase adulta. É por isso que se considera que cada um seja o resultado das suas características inatas e das experiências vividas. Atentando-se cuidadosamente para esses fatores e considerando-os por sua coerência intrínseca, será possível conhecer e explicar mais sistematicamente aqueles dados que caracterizam a realidade do comportamento de cada um. Como não há bagagem inata idêntica e tampouco experiências de vida exatamente iguais, é possível chegar à conclusão sobre a diferença mais característica entre as ciências exatas e as ciências comportamentais.No tocante às ciências exatas, torna-se impossível emitir opiniões e crenças, pois uma demonstração numérica poderá refutá-las fulminantemente; assim, ninguém se arrisca, pois seria fácil demonstrar sua ignorância. Com relação às ciências do comportamento, mais amplamente denominadas ciências sociais, tais como a psicologia, a sociologia, a política e outras, o caso é bem outro. No geral todos têm coragem suficiente para explicar e interpretar os fatos, defendendo ardorosamente seu ponto de vista, em que pese ter sido formado de observações esporádicas e precariamente apoiadas numa investigação mais criteriosa de dados empíricos.
Estudiosos denunciaram essa tendência, muito difundida, em considerar os fenômenos comportamentais de forma simplista e apriorística. Henneman o faz de maneira incisiva: "Quase todo mundo tem arraigadas noções a respeito da 'natureza humana' e um alto grau de confiança (raramente justificada) em sua capacidade de 'avaliar' as outras pessoas. Quando as nossas mais caras crenças a respeito do comportamento do nosso semelhante são modificadas ou contraditadas, a maioria de nós se torna intolerante ou rejeita a evidência contrária tachando-a de teoria. Como salientou o psicólogo Carl Rogers, talvez a maior barreira à comunicação seja nossa tendência muito natural para avaliar (e, como consequência, aprovar ou desaprovar) as afirmações das outras pessoas. Não estamos muito dispostos a aceitar informação contrária aos nossos preconceitos e crenças pessoais.
Em virtude dessa tendência em formular leis sobre o comportamento humano a partir de simples opiniões pessoais, muitos livros têm sido escritos, muitas conferências têm sido proferidas e até mesmo grande quantidade de cursos tern sido ministrada não mais divulgando, mas simplesmente banalizando urna área de conhecimento humano que já é há muito oficialmente reconhecida como ciência. Especialmente o sincretismo característico do povo brasileiro tem incentivado as práticas de interpretações errôneas dos comportamentos, por pessoas não cientificamente habilitadas. Para esse tipo de "curioso" é fácil explicar o comportamento das pessoas e, sem cerimônia alguma, fornecer orientações sobre como resolver os problemas pelos quais passam aqueles que os procuram. A exemplo disso, são distribuídos nas ruas folhetos que oferecem a troco de uma "simples consulta" formas de resolver problemas, tais como dificuldades na vida amorosa, nos negócios, no relacionamento com pessoas e muitas outras. Outro tipo muito significativo no contexto brasileiro é a autoridade que conhecidos "pais" ou "mães-de-santo" exercem sobre o destino daquelas pessoas que os procuram; seus conselhos são inexoravelmente seguidos.
Infelizmente a vulgarização das crenças sobre o comportamento humano fez jorrar no mercado livros que contêm idéias fascinantes, mas falsas, inoperantes e até mesmo prejudiciais no tocante ao seu aproveitamento, tendo em vista o nem e a felicidade dos indivíduos que se lançam à sua leitura, buscando alívio para suas inquietações.
Deve-se pensar que a aquisição de conhecimentos sobre o assunto não seja tão simples assim. No momento em que as pessoas devem trilhar o caminho do estudo científico sobre comportamento, parecem logo tornar-se impacientes. Logo percebem que antes de poderem interpretar a si e aos outros estão diante da contingência de ter de acumular uma grande dose de conhecimentos básicos, que na maioria das vezes se
caracterizam por ser eminentemente insípidos e principalmente despidos de imediata aplicação prática.
Ocorre, no entanto, que esse é o único começo possível, e isso implica a aquisição de um considerável acervo de teorias e pesquisas, para que não ocorra o incidente de se redescobrir a roda redonda.
Fonte: BERGAMINI, Cecília W. Psicologia aplicada à Administração de empresas. São Paulo: Atlas, 1997. p. 17-21.
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